sexta-feira, 15 de março de 2013

COMO MINISTRAR UMA PALESTRA A PARTIR DE PESQUISAS CIENTÍFICAS EM DESENVOLVIMENTO





I Introdução
O presente manual busca subsidiar aqueles que desejam saber “como ministrar uma palestra a partir de pesquisas científicas em desenvolvimento”. Esta sistematização de "know how" foi gerada no âmbito da disciplina Estágio Docência II conduzida pelo Professor Dr. André Porto Ancona Lopez no Dinter em Ciência da Informação UFES-UnB.

Deste modo o que se coloca a seguir é produto de reflexão sobre a palestra realizada no dia 28/02/13 pelos professores Luzia Zorzal e Taiguara Villela Aldabalde.
O que se apresenta é senão um produto de reflexão sobre a docência em si, tendo em vista a possibilidade da replicação desta proposta.

II Premissas:

II.1 O conhecimento não é objetivo
O conhecimento não é objetivo, mas subjetivo.
Logo o professor não modela o aluno como um objeto, mas é tão somente o responsável em sistematizar o método contido nos processos de interação/aprendizagem.
Para realizar esta sistematização o docente deve entender os sujeitos pensantes/falantes. Ou seja, é preciso desenvolver capacidades e habilidades no campo da linguística e buscar captar os conteúdos motivacionais, ideológicos, bem como cognitivos.

II.2 Provocação do conhecimento
Se não é possível moldar o conhecimento como objeto, se torna viável provocar algo no aluno que o faça entrar em contato com os próprios conteúdos internos.
A maneira de despertar o aluno para o conhecimento dentro de si mesmo é fazê-lo pensar criticamente e desenvolver o processo didático de contextualizar, analisar, sintetizar e avaliar aquilo que está sendo colocado pelo ministrante.

III Itens necessários ao Plano de Ensino


No caso do tipo de atividade pedagógica – palestra - diferente de uma Mesa Redonda, por exemplo, onde haveria um moderador entre os pesquisadores (ou experts, técnicos, especialista etc.) os próprios ministrantes são mediadores entre seus conhecimentos refletidos nas pesquisas e os conhecimentos prévios dos alunos. Desta forma é preciso planejar o ensino-interação garantindo os seguintes itens:

III.1 Público-alvo
A partir do universo de pesquisa é preciso vincular os conteúdos das pesquisas com os interesses dos estudantes.
As demandas dos alunos constituem suas solicitações, aquilo que estão procurando, suas reais expectativas, aquilo que esperam encontrar e todos os benefícios que esperam obter no aprendizado.
Em se tratando de uma pesquisa científica em desenvolvimento seria interessante discutir os temas escolhidos entre alunos que já tenham seu trabalho também em desenvolvimento como mestrandos e doutorandos.
Ex.: Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Administração, da Ufes.
Disciplina de interface: Teoria das Organizações
Prof. da disciplina: Prof. Dr. Alfredo R. Leite de Almeida

III.2 Recortes dos temas
Os temas devem ser extraídos a partir das pesquisas em andamento, interesses comuns dos pesquisadores e do alunado.
Para isto será necessário que os ministrantes tenham um conhecimento mínimo sobre as pesquisas de seus co-ministrantes, seja por contato direto ou uma descrição de conteúdos por indexação ou por palavras-chaves. Os educadores devem localizar os pontos a serem abordados aos alunos da área afim ou de sua própria área. Ex.: Disclosure Institucional e Cultura da Transparência

III.3 Relações temáticas
Para fazer as relações temáticas é preciso mapear os conhecimentos que envolvem as pesquisas, pois assim é permitido perceber a relação das pesquisas com a área de conhecimento do público alvo. Em outras palavras, para ensinar por meio de pesquisas em desenvolvimento cabe a verificação de seu direcionamento, e, portanto, é imperativa uma prévia identificação da transdisciplinaridade entre as áreas da pesquisa e a área do público.
Ex.: Duas pesquisas em Ciência da Informação. A primeira com base na Contabilidade selecionou o tema “Disclosure Institucional” e a segunda com foco em Mediação Arquivística selecionou o tema “Cultura da Transparência”.  Ambas foram aplicadas no ensino do Mestrado em Administração.

III.4 Cronograma
É preciso planejar, a integração entre ministrantes, a instituição de ensino e os alunos. Em suma, trata de que dias e horários se realizará a(s) atividade(s), quais prazos para atender a agenda se constituirá: O que ensinar? Onde ensinar? Quando ensinar?

III.5 Do Objetivo
§  Provocar a construção do conhecimento estimulando a reflexão sobre as pesquisas e sua inter-relação;
§  Ex.: Considerando duas pesquisas em Ciência da Informação, a primeira pesquisa possui como epicentro o estudo do Disclosure das Instituições de Ensino Superior (IES) no tocante às informações econômicas, financeiras, sociais, ambientais, tecnológicas e culturais. A segunda trata do papel da instituição arquivística na mediação cultural entre os documentos e a sociedade. A cultura da transparência foi derivada do que foi apresentado como algo presente no cotidiano dos alunos.
§  Compartilhamento dos saberes por meio do blog e disseminação da informação.

III.6 Método
            Exposição compartilhada entre os pesquisadores realizando interlocução com os conteúdos de suas respectivas pesquisas e uma questão proposta aos alunos. Método Participativo que pode ser alimentado na ferramenta tecnológica on-line – como um “blog”, por exemplo. Ex.: Os doutorandos Luzia Zorzal e Taiguara Villela realizaram exposições e contaram com a utilização de slides e papel impresso. O blog “pedagoarq.blogspot.com” disponibiliza resultados e permite discussões.

IV Considerações Finais para Aplicação
Esta técnica poderá ser utilizada em todas as disciplinas e em todos os cursos de nível superior e de pós-graduação.
Oportuniza confrontar conhecimentos, difundir assuntos novos, ampliar ou aprofundar conhecimentos.
Poderão ser convidados experts para debaterem temas emergentes.
Quando realizada numa turma de um determinado curso, os alunos poderão ser organizados em equipes (pequenos grupos) e ser solicitado que cada equipe estude determinado assunto e preparam-se para uma discussão.
Esta discussão não se esgota em sala de aula, pois o uso de tecnologias – como o blog – possibilita que a aplicação de recursos eletrônicos e da rede mundial de computadores seja útil a atividades educativas podendo ser utilizada continuamente.

V Resultado da ação pedagógica
No início da exposição alguns dos participantes não conheciam o termo disclosure. Após a palestra pode-se observar, por meio das respostas feitas por escrito na própria sala de aula, e posteriormente disponibilizadas no blog: “pedagoarq.blogspot.com” de que houve boa assimilação dos conteúdos, pois 100% (7 alunos do programa de Mestrado em Administração, da Ufes) dos que participaram da atividade, responderam a questão solicitada de forma satisfatória. Questão solicitada: “A partir da realidade de um órgão público, responda o que você compreende por Disclosure Institucional no que tange ao procedimento técnico e o que já poderia ser realizado como prática cultural sem a coerção da lei?
A seguir tabulação das respostas dos alunos com base na questão solicitada:
Tabela 1 - Disclosure institucional
Compreensão do que é disclosure
Qtde Mestrandos
%
Divulgação de infomação
4
57.1
Acesso a informação
1
14.3
Publicidade de informação relevante
1
14.3
Transparência e visibilidade
1
14.3
Total
7
100.0

Tabela 2 - Prática cultural
Prática cultural sem a coerção da Lei
Qtde Mestrandos
%
Não fez comentários
3
42.9
Incentivar a busca da informação
1
14.3
Auditar e divulgar
1
14.3
Transparência de questões para o público 
1
14.3
Difundir a cultura da transparência por meio do sistema educacional
1
14.3
Total
7
100.0

VI Bibliografia
LOPEZ, André Porto Ancona et al. Blogs como ferramenta de ensino aprendizagem de diplomática e tipologia documental: uma estratégia didática para construção de conhecimento. Disponível em:< http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/pgc/article/view/
10790/6098>. Acesso em: 5 mar. 2013.
 MINICUCCI, A. Dinâmica de grupo: manual de técnicas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1980.
RODRIGUES JÚNIOR, José Florêncio. Diretrizes para elaboração de um plano de ensino. Brasília, Faculdade de Educação. Departamento de Métodos e Técnicas, 1991.